terça-feira, 4 de junho de 2013

A Democracia, o Estado de Direito, a Liberdade de Expressão saíram ontem para as ruas de Maputo!









Foi com extrema emoção que ontem me dirigi para a Associação dos Médicos Moçambicanos, ao lado do Misau, conforme estava estipulado no email da convocatória para a participação na Marcha silenciosa a favor da Saúde. Na verdade, quando ontem recebi o email do Gabinfo AMM convidando para participar na mesma, fiquei deveras preocupada e com imensas dúvidas da minha efectiva participação.
O historial de manifestações em Moçambique não é de todo positivo, pelo contrário é bem violento, com a presença em excesso da Policia, actos violentos por parte destes, intimidação, lançamento de gás lacrimogéneo, a FIR muito presente para marcar quem faz parte destes processos, enfim, tudo adjectivos que não convidavam o cidadão comum a fazer parte desta marcha.
No entanto, o meu dever cívico, o meu sangue de bloguista, a minha vontade de querer informar, de querer dar o meu contributo a uma classe trabalhadora que está a lutar pelos seus direitos, a vontade de fazer parte de um processo democrático, consagrado na Constituição da Republica, a expressão do Estado de Direito, ou seja, o direito que os cidadãos moçambicanos tem de se manifestar, lá fui eu com algum medo á mistura.
O que vi assim que cheguei, ás 8h da manhã as imediações da AMM foi assustador: policia em peso, cães ameaçadores, um blindado da policia enorme, que graciosamente se passeou no local como forma de intimidar os presentes. Por outro lado, a presença massiva de jornalistas, da Televisão, de fotógrafos, jornalistas nacionais, internacionais, ver um Fernando Veloso presente com o povo, acalmou o meu medo e insegurança. Pelo contrário, percebi que ali era o meu lugar!
Como forma de fazer dissuadir os presentes para a marcha, em vez de iniciarmos as 8h conforme combinado, só as 10h 30 nos foi autorizado pela polícia inicia-la, uma vez que o percurso pela AMM escolhido poderia colocar em causa a segurança de Edifícios Públicos.
No entanto, devo confessar, que apesar da intimidação inicial por parte da Policia, a Policia de Transito agiu de forma exemplar, quando nos dirigimos para a Praça da Paz, velando por nós, protegendo-nos, e extremamente gentis.
Gostaria de salientar, de frisar que a marcha foi extremamente pacífica, com os presentes de boca literalmente selada por fita-cola, carregando um prato de plástico, para simbolicamente demonstrar a fome que passam, as privações que passam. O apoio dos automobilistas quando por eles passávamos era grande, o povo nas ruas incentivavam os profissionais de Saude a continuar com a greve, proferindo palavras como: O povo esta convosco! Continuem, lutem pelos vossos direitos!
O meu objectivo ao escrever estas palavras é essencialmente dizer que se nos deixarmos levar pelo medo, pelas ameaças, pela intimidação, não conseguimos fazer nada, não conseguimos mudar nada. Jovens na sua essência faziam parte desta marcha, estudantes, que estavam ali todos juntos pela mesma causa: defender os direitos de profissionais de saúde, sejam eles médicos, enfermeiros, serventes, o que for. Apesar do medo das represálias, estávamos todos juntos, unidos, e a contribuir com a nossa cidadania de forma activa e não passiva.
A minha causa é poder apoiar os médicos, os professores, até a própria policia, as diversas classes trabalhadoras que neste Pais não são dignificadas, classes essas que são essenciais para o desenvolvimento saudável de um País. Sem bons professores, não conseguimos formar bons estudantes, sem médicos a trabalhar em pleno temos doentes mal atendidos, temos uma Saude débil, doente, sem policias bem pagos, vivemos uma realidade assustadora, cheia de policias corruptos, intimidadores, que deixam de servir os cidadãos para servir os seus próprios interesses, e como eles temos todos os restantes trabalhadores públicos, que se corrompem constantemente, impedindo a criança de se matricular na escola, porque não tem 50 meticais para subornar o funcionário, apesar do ensino ser gratuito, temos o funcionário publico que não deixa o menino doente entrar no hospital porque não tem dinheiro para o subornar e ser atendido de imediato, e por ai fora…!
Para terminar, devo confessar que fico triste por não ter visto a sociedade civil em peso nesta marcha, sociedade civil essa que é paga para lutar por uma sociedade mais justa, por um pais mais justo, mas que na hora de dar o seu contributo se mantém atrás do conforto das suas secretarias…com medo… Nota zero para a sociedade civil!
 Quanto aos moçambicanos, ao cidadão comum, um bem-haja para vós, pois cumpriste o vosso dever de apoiar uma causa que não é de alguns, mas sim de todo o povo moçambicano.
Viva o povo moçambicano!
Viva a Democracia!
Viva o Estado de Direito!
Viva a Liberdade de expressão!
Viva os profissionais de Saude!
É possível termos um País democrático, com indicadores democráticos e de Boa Governação respeitados como a Capacidade de influenciar a formulação das políticas públicas, Abertura do governo às demandas da população, Transparência com que o governo trata dos assuntos públicos, a participação dos cidadãos no processo político, Responsabilidade Prestação de contas.
Estamos juntos!
Abre o Olho!!! 

Sem comentários:

Enviar um comentário