sexta-feira, 3 de maio de 2013

Moçambicanas…e moçambicanos…!Não teremos passado de um Colonialismo Português para um Colonialismo Moçambicano?


Ontem lia a entrevista dada pelo nosso conceituado arquitecto Forjaz, uma referência da arquitectura moçambicana e uma personalidade marcante da elite cultural do país, e permitam-me fazer algumas reflexões e chegar a algumas conclusões:
Ninguém melhor como uma grande referência como o arquitecto Forjaz, chegado a Moçambique em 1952, ainda na era Colonial, integrando o primeiro governo moçambicano, liderado pelo nosso Grande Samora Machel, com quem trabalhou de perto, e de quem foi secretario de Estado do Planeamento Físico. Ninguém melhor como esta ilustre figura moçambicana, que esteve presente em várias épocas do nosso país, no colonialismo, na transição, na independência, na formação do primeiro governo, e neste momento, graças a Deus, acompanha a nossa realidade com um olhar crítico, de quem tem imensa experiencia, e não está de Olho Fechado relativamente ao que esta a passar no nosso país, numa altura tão frágil, a nível de manutenção da Paz, numa altura de grandes descobertas de recursos naturais, de grandes investimentos.
Disse o arquitecto:
1)      “Maputo era uma cidade mais verde, muito agradável para os privilegiados que a habitavam. Mas a população que servia esses privilegiados vivia e vive mal. Vivia nos arredores, não tinha luz, água, estradas, transportes ou escolas. Ou tinha de forma insuficiente. Com esta reserva, digamos que a então Lourenço Marques formou-se e estruturou-se como uma cidade bem planeada, bem marcada no terreno e com visão”

3)      Os moçambicanos que serviam Maputo antes da independência vivam mal e continuam a viver. As coisas melhoraram pouco ou até pioraram. A densidade é maior e as condições de habitabilidade são piores. Há uma organização espontânea insuficiente. O desordenamento físico e social leva a situações graves de criminalidade, porque não há condições de defesa, nem iluminação. A vida é muito dura.

4)      Há e há falta de meios que façam cumprir a lei. A corrupção é generalizada e faz com que a lei seja um instrumento de enriquecimento das pessoas que a deviam fazer cumprir. É o caso do polícia que a manda parar para lhe pedir os documentos, e percebe logo que ele só quer 1000 meticais, porque não consegue viver com um salário de 50 ou 100 dólares por mês.

5)      Está a haver um retrocesso no país, e não um progresso. Há mais pobreza hoje em Moçambique do que havia há 10 anos.

6)      As diferenças sociais acentuaram-se apesar de o país estar a crescer 7% ao ano...A economia está a crescer 7% porque há pessoas cujo rendimento cresce 50% e outras que diminui.

7)      Não está a haver redistribuição da riqueza, há concentração da riqueza.

8)      Há uma debilidade ideológica absoluta nos governantes. E se não há política, não há ideologia. O pior é que quase só há políticos, não há política.

9)      O poder é, neste momento, exclusivamente uma maneira de ficar rico, muito rico, anormalmente rico.

10)  Não há mecanismos para distribuir a riqueza, porque há o controlo absoluto de um partido único (a Frelimo).

11)  As grandes descobertas (carvão/gás) estão criar uma tensão nas elites...Para se apropriarem ainda mais. A tensão existe há muito tempo. As pessoas não estão tentadas, estão envolvidas nesse tipo de operações.

12)  O povo moçambicano sabe o que quer, mas ainda insuficientemente. E os sistemas de afirmação de poder e de controlo são muito fortes.

13)  Esse controlo faz-se através da polícia. Faz-se de todas as maneiras. Faz-se brutalmente. Faz-se eliminando qualquer pessoa com um cargo directivo que não esteja de acordo com o partido e os interesses das pessoas do partido. Quem não está connosco está contra nós. Há um absoluto descontrolo dos sistemas de segurança.

14)  Mas a polícia é um problema gravíssimo neste país, faz abusos de poder constantemente. A actuação da polícia é talvez a mancha mais negra na credibilidade do país. Brutalidades, tortura, prisões sem mandato judicial. Cooperação e coabitação com bandidos.

15)  Aconteceu a partir do momento em que o país começou a enriquecer?Com uma personalidade ideologicamente motivada e honesta do ponto de vista material, como era o presidente Samora Machel, isto não acontecia. Ou, melhor, acontecia tão escondidamente que quem se revelasse era punido, porque havia uma grande integridade ao nível governamental. Não há memória, nem passava pela cabeça de ninguém que um ministro pudesse estar envolvido em negócios menos claros.

16)  Há vários países interessados em investir em Moçambique. Vejo isto com muita preocupação, justificada pelo desastre que já foi a maneira como se concederam direitos a esses investidores. Direito a tirar do país tudo o que não deviam tirar. Essas grandes empresas não estão cá para fazer Moçambique mais rico, mas para se fazerem a si próprias mais ricas. Há maneiras mais eficientes de deixar ficar cá mais do que levam. Os proventos chorudos que ficam em Moçambique ficam para muito poucos. Cria-se uma pequena burguesia rica satisfeita. Tudo isto é produto de má negociação. Poderá ser incompetência ou interesse. Julgo que são as duas. O facto de haver investidores nacionais que são dirigentes do país e accionistas de empresas faz com que defendam os interesses destas para ficarem mais ricos, e não o dos desgraçados que estão em cima das minas de carvão.

Após esta exposição relativa a entrevista do arquitecto Forjaz, vejo-me forçada a reflectir e a questionar-me:
1)      Como viviam os moçambicanos na altura do Colonialismo? Com imensas dificuldades certo? Nas periferias, com empregos mal pagos, com uma diferença enorme social, económica e politica de brancos para negros, certo? Não vivemos advogando que fomos escravizados?
2)      Eu pergunto-me: E agora? Após a independência? Em que situação nos encontramos? Mais ricos? Mais libertos? Devia ser assim certo? E porque não é? E porque continuamos pobres? E porque continuamos sem comida? Sem educação? Sem saúde? Sem direitos? Supostamente, antes da Independência vivíamos assim certo?
3)      E agora? Quais são as desculpas? Já não é o Colonialismo? O que é? Não estaremos a ser colonizados pelos nossos irmãos moçambicanos, que em vez de nos representarem, estão a representar os seus interesses acima de tudo?
Não estarão os nossos irmãos moçambicanos a enriquecer desmesuradamente, a ganhar com grandes negócios, grandes contratos, com o Gás, os Recursos Naturais? E o povo? Onde fica o povo? Aquele que ainda morre a fome?
Sr. Arquitecto Forjaz, irmão, você que conviveu com o nosso Grande Samora Machel, o que acha que ele diria desta nossa realidade? Do rumo que o nosso país está a seguir? Não estaremos nós bem longe daquilo que eram os vossos ideais? Ideais do nosso Samora?

Abram o Olho!!!
 


1 comentário:

  1. Quando comecei a ler este artigo e após os 16 pontos (que afinal são 15 - do 1 salta para o 3) senti que ia a caminho de uma crítica um tanto ou quanto pesada ao Arquitecto. Mas não... Nos seus 3 pontos finais, apenas concordou com que ele disse. E acho bem... concordo também. O Arq.º Forjaz, é daqueles que pode dizer o que qeur com cabeça erguida. É mais moçambicano que todos esses que andam pela Frelimo e lamber as botas, para terem o seu lugar ao sol.

    Enfim...

    De qualquer modo, tomei a liberdade de "espatifar" este artigo no meu site, pois gostei bastante: http://goo.gl/Gk5wv

    Abraço!

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